Ele é alto, bonito, engraçado e politicamente incorreto ao extremo. Faz piada sobre tudo e todos, não deixa nem escapar o filho de apenas nove meses, o pai, a mãe e a esposa. Mas é assim que, de cara limpa, Rafinha Bastos faz rir, e não foi diferente em sua passagem por Belém no último domingo.
Em duas sessões lotadas, Rafinha se mostrou até mais sereno do que se poderia supor. As mesmas piadas que ganham tons superácidos quando faladas na TV têm contornos mais amenos com o artista no palco, de frente para o público e encegueirado pela luz dos holofotes que ofuscam sua vista, afinal ele tem 2 metros e 1 centímetro de altura, e quase alcança as lâmpadas com as mãos.
A toda hora, aliás, ele reclama que os focos não estão em sua figura, e também não poupa os fãs. “Desliga essa câmera, menina”, mostrando que tem total domínio de cena e do espetáculo que quer proporcionar.
São quase uma hora de piadas e aí ele não poupa ninguém. Brinca com o envolvimento do ator Fábio Assunção com as drogas, fala mal de padres e pastores (mas também tira sarro consigo próprio por ser judeu) e não perdoa as mulheres e sua relação com a TPM (“A mulher por cinco dias no mês vira o diabo da Tazmânia. Não é à toa que hormônio e demônio são palavras parecidas”).
Sobre Belém, que ele diz adorar, ironiza a conhecida falta de educação no trânsito – “O pessoal aqui não conhece uma coisa chamada sinal vermelho, né?” – e também o excesso de artistas mambembes nas esquinas.
Para o final, deixa as piadas mais polêmicas que já viraram sua marca registrada. Fala sobre negros, paralíticos, conta a tal piada do estupro – na qual diz que mulher feia deveria agradecer por ser estuprada – e mais uma vez chama o povo de Rondônia de feio. Mas junto com as piadas, vem a cutucada: “O Brasil é um país preconceituoso. Tudo agora é processo, mas na verdade as pessoas fazem isso porque o preconceito parte delas”.
Em Belém, a rixa entre manauaras e paraenses não ficou de fora. “Sinto que o pessoal de Manaus odeia mais os paraenses do que o contrário. Isso acontece porque vocês se acham superiores, né?”, avacalha. “Uma grande diferença entre o povo do Pará e o de Manaus é que aqui não se odeia tanto o Restart”, diz, ironizando o episódio em que um integrante do Restart falou mal de Manaus nas redes sociais e o show da banda por lá acabou sendo cancelado.
Ao final, a sensação que se tem é que Rafinha quer fazer apenas humor. Tudo bem que algumas coisas parecem agressivas aos ouvidos, mas não diferem muito das piadas feitas em mesa de bar, ou em humorísticos antigos e nada politicamente corretos como “Viva o Gordo”, “Os Trapalhões” e “Chico Total”. Talvez o que se tenha perdido com o tempo é a capacidade de rir da própria vida e do que é diferente - e todos, em alguns aspecto, somos assim, seja por sermos brancos, negros, índios, altos, baixos, gordos, magros, homens, mulheres, tudo depende do referencial. No mais, são só piadas. Apenas piadas. (Diário do Pará/ Esperança Bessa, Especial para o Caderno Você)
Fonte:Diário do Pará
Nenhum comentário:
Postar um comentário